É impressionante como a política é fascinante, mexe com a nossa vida e tem o poder de mudar os rumos de uma sociedade. Poderíamos voltar séculos no tempo para analisar essa dinâmica, mas voltemos apenas até o presidente Juscelino Kubitschek.
JK não apenas construiu Brasília para ser a capital da República, como também foi quem implantou a indústria automobilística no Brasil. Uma das consequências da implantação da indústria automobilística foi o surgimento de sindicatos dos metalúrgicos.
Dentro do movimento sindical apareceram líderes e entre eles estava Lula. Ele surgiu porque lá atrás alguém resolveu industrializar o País. Se não houvesse indústrias, não haveria sindicatos e, por conseguinte, não haveria Lula.
Por outro lado, a construção de Brasília abriu um espaço então desconhecido para muitos brasileiros: o centro-oeste. Durante muito tempo, essa terra, que é uma enorme porção do território nacional, foi considerada inservível. Não tinha valor. Até então, a agricultura era restrita a clima temperado ou frio. Soja, no Brasil, era produto apenas do Rio Grande do Sul e do Paraná.
Com a tecnologia, a região do cerrado se desenvolveu e o interior do País, antes pobre e largado, se modificou. Gaúchos e paranaenses subiram pelo interior do país, expandindo as plantações de soja e outros grãos do sul de Goiás e chegam perto do oceano Atlântico no Piauí, predominando em vários estados. Surgiu um Brasil que não existia antes de 1980. Assim como a indústria automobilística gerou um país que não existia antes de 1960.
O novo momento econômico ocorrido teve consequências políticas. Fernando Henrique, que combateu o período militar, se tornou presidente, depois Lula e depois Dilma.
O momento de agora é de outra transição. Na música, o sertanejo substituiu a bossa nova. No futebol, Goiás colocou dois times na primeira divisão do campeonato brasileiro e Mato Grosso emplacou um, o Cuiabá. Ninguém poderia prever o fenômeno anos atrás. É o dinheiro originário das grandes safras milionárias, negociadas em dólares. O agricultor agora emprega trabalhadores qualificados, utiliza tecnologia de ponta e sustenta boa parte do produto interno bruto do país.
A eleição do próximo domingo é a fotografia perfeita do momento que vivemos. A indústria passa por um processo de redução de sua influência, enquanto o agronegócio explode na economia, na música e até no futebol.
Lula teve o seu tempo. Bolsonaro aparece numa situação mais confortável e com condições de aproveitar melhor o respaldo político e econômico que o agro proporciona ao País.
A retórica de ficar discutindo sobre militares e comunista passou. A esperança é de que o eleito possa esquecer o passado e passe a apostar no futuro, afinal temos uma geração que virou a página da política.
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